junho 02, 2024

Evolução tecnológica em Ponta Grossa dos Fidalgos e seu entorno
Evolução tecnológica em Ponta Grossa dos Fidalgos e seu entorno

Podemos identificar, em documentos de valor científico, três períodos tecnológicos ao longo da existência de Ponta Grossa dos Fidalgos (PGF) e seu entorno.

O primeiro período ocorre entre 1767 e 1783, caracterizando-se pelo estágio das ferramentas na lagoa e no ambiente terrestre ao redor da comunidade. O segundo período compreende os anos entre 1881 e 1940, marcando-se pelo estágio das ferramentas na lagoa e das máquinas no ambiente terrestre ao redor da comunidade. O terceiro período inicia-se entre 1960 e 1970, representando o estágio da máquina no ambiente terrestre ao redor da comunidade, na lagoa e na própria comunidade.

Primeiro Período (1769 até meados do século XIX): tudo era ferramenta

Entre 1769 e 1783, 223 engenhos e engenhocas de açúcar foram criados em Campos dos Goytacazes (RJ). Quase no mesmo período, mais especificamente em 1767, há registros do aparecimento de Ponta Grossa dos Fidalgos em um mapa histórico.

Nessa época, a tecnologia utilizada nos engenhos e engenhocas resumia-se ao estágio da mera ferramenta. Na pesca, ocorria o mesmo fenômeno. Ainda não se sabe se a rede de pesca, trazida pelo colonizador europeu, já era utilizada pelos pescadores de PGF, sendo possível que ainda fizessem uso do juquiá, um instrumento de pesca indígena.

Segundo Período (1881 até o fim da década de 1950): máquina no ambiente terrestre ao redor e pesca apenas com ferramentas

Já em 1881, o número de engenhos a vapor na região superava o número de engenhocas existentes. Segundo Lamego:

É de supor que, desde os fins da Regência, o domínio da máquina comece a preponderar em definitivo. (Lamego, 1945, p. 136).

No mesmo ano, há registros de Ponta Grossa dos Fidalgos como uma comunidade pesqueira.

Ato contínuo, em 1885, um novo estágio evolutivo foi atingido na planície. Ainda segundo Lamego:

Estamos no período áureo dos engenhos, mas justamente por esse tempo seu declínio vai começar com a ereção das usinas.

(...) Como se dera com as engenhocas e com os engenhos a vapor, as usinas aparecem de repente, e em poucos anos transformam de novo a economia regional. (Lamego, 1945, p. 137).

Em 1905, a atual Usina Paraíso começou a operar nessa condição, já como uma usina. Em PGF, muitos moradores provavelmente dependiam do trabalho nos canaviais que abasteciam a usina, dada a proximidade com a comunidade. Entretanto, o que chama nossa atenção é que o estágio da máquina chegou ao ambiente terrestre ao redor da comunidade – não no canavial, mas no beneficiamento da produção.

Usina Paraíso vista das proximidade de PGF.
Fonte: Sala Verde IFF Campos. 2010.

Já em Ponta Grossa dos Fidalgos, entre o final da década de 1930 e o início da década de 1940, confirmou-se o uso em larga escala das redes de pesca e a utilização da canoa indígena — esta última feita a partir de um único tronco, retirado na região serrana de Campos dos Goytacazes.

Apesar de ainda estar na fase da mera ferramenta, é necessário ter em mente que estamos falando da pesca artesanal em um ambiente lacustre.

Terceiro Período (de 1960 em diante): máquina em tudo

Na década de 1960, chegou a luz elétrica (1961), beneficiando diretamente PGF e conectando a comunidade aos avanços da Segunda Revolução Industrial. Consideramos que, nesse momento, houve a introdução da máquina na comunidade, caso aceitemos a classificação da fiação elétrica como parte do mecanismo de uma grande máquina de produção, transporte e distribuição de energia elétrica.

Na década de 1970, a evolução técnica permitiu o início da construção de um canal submerso na Lagoa Feia, obra que não chegou a ser concluída devido à resistência dos pescadores de PGF, já que sua construção levaria ao dessecamento de uma grande área ocupada pela lagoa. É a partir desse momento que consideramos a introdução da máquina na lagoa.

Na mesma época, houve uma mudança na fabricação dos barcos na comunidade. Até então, os barcos eram construídos com recursos obtidos no município de Campos dos Goytacazes. Posteriormente, passaram a ser fabricados com madeiras adquiridas no comércio da cidade, vindas de outras regiões do país — um fenômeno viabilizado pelo transporte rodoviário, característico da Segunda Revolução Industrial.

Com o tempo, em data precisa desconhecida, ocorreu uma sucessão de mudanças. A motorização das canoas tornou-se predominante, um marco importante, pois foi a primeira vez que um implemento técnico que não era mero prolongamento da mão humana (ferramenta) passou a ser utilizado na pesca — ou seja, uma máquina.

Em terra, chegou a água encanada (possivelmente em 1977). Mais tarde, vieram a parabólica, a telefonia fixa, a TV por satélite, a internet e a telefonia móvel.

Motor a combustão interna Yanmar em PGF.
Fonte: Sala Verde IFF Campos. 2011.

Fecha-se, assim, um ciclo de dominação da máquina: ela está — ou esteve — presente no ambiente terrestre ao redor da comunidade (por meio dos engenhos a vapor e das usinas, além de, possivelmente, ser utilizada hoje na colheita da cana-de-açúcar); na lagoa (com a tentativa de dessecá-la e a introdução do motor nos barcos de pesca); e na própria comunidade (por meio da energia elétrica)

Fontes:
- Alberto Ribeiro Lamego. O Homem e o Brejo. 1945.
- Carlos Abrãao Moura Valpassos. Quando a lagoa vira pasto. 2006.
- José Colaço Dias Neto. Quanto custa ser pescador artesanal?. 2012.
- Lucas Batista Barcelos e Gustavo Siqueira da Silva. Futebol, usina e identidade. 2020.
- Thaís Nascimento Cordeiro. A festa de São Pedro em Ponta Grossa dos Fidalgos. 2009.

Últimas modificações20/04/2025

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