No dia 29/05/2024, um novo capítulo na relação do Rio de Janeiro (RJ) com o automobilismo começou a ser traçado. Segundo anunciado pelos jornais, uma nova área para a construção de um autódromo foi definida no bairro de Guaratiba. O Rio de Janeiro já teve um autódromo em Jacarepaguá, contudo, esse local precisou ser definitivamente transformado em um Parque Olímpico devido às Olimpíadas de 2016. Quase ao mesmo tempo em que ocorreu o fechamento do autódromo de Jacarepaguá, uma nova área para a construção de uma pista de automobilismo foi escolhida em Deodoro. No entanto, o projeto seria um retrocesso, pois ali está localizada a floresta do Camboatá. Descartado o local em 2021, uma nova área para receber o autódromo foi definida em Guaratiba, conforme anunciado na data citada no início do parágrafo.
Abaixo, iremos caracterizar a paisagem desses três locais: Barra Olímpica ("Jacarepaguá"), onde existiu um autódromo; Deodoro, onde quase existiu; e Guaratiba, onde poderá existir. Abaixo, verifique no mapa todas essas localizações.
Barra Olímpica
Situado as margens da Lagoa de Jacarepaguá, o autódromo homônimo estava inserido na Baixada de Jacarepaguá e Lagoas Costeiras, mais especificamente no Cabo Pombeba. Essa localização levava o então autódromo (hoje um Parque Olímpico) a conviver com o risco de inundação dos espaços que compartilham a área desse acidente geográfico, como já ocorreu com a Vila Residencial Aeronáutica de Jacarepaguá, especialmente durante períodos de chuvas intensas e ou marés altas.
Do ponto de vista geomorfológico, o então autódromo estava inserido na Planície Litorânea do Brasil. Com a elevação do nível do mar, de maneira geral, a área seria afetada. Contudo, de acordo com a simulação de elevação do nível do mar em 1 metro - já que segundo a ONU isso ocorrerá até 2100 -, o autódromo se ainda estivesse lá não seria muito afetado. Entretanto, os problemas ambientais que hoje afetam a lagoa - como o assoreamento, que está diretamente ligado a proliferação de cianobactérias, que gera, por sua vez, o seu característico odor - serão intensificados no futuro, já que aparentemente nada de diferente vem sendo feito para solucionar o problema.
Deodoro
Situada entre os maciços costeiros da cidade do Rio de Janeiro (RJ) - Tijuca, Pedra Branca e Mendanha -, a área que despertou as maiores disputas pela implantação de um autódromo pode ser classificada como integrante da Baixada da Guanabara.
Do ponto de vista geomorfológico, o autódromo estaria inserido nas Colinas e Morros da Depressão da Guanabara, e possui altitude média superior à das planícies que margeiam o litoral do Rio de Janeiro (RJ).
A Floresta do Camboatá, que ocupa a área que foi pretendida para a construção do autódromo, apesar de ser classificada como uma Vegetação Secundária, se enquadra originalmente como uma Floresta Ombrófila de Terra Baixa.
A erradicação dessa floresta seria verdadeiramente um ato de estupidez, pois além de deixar o Rio de Janeiro (RJ) sem talvez uma única floresta de terra baixa, causaria o aumento de temperatura para uma área que já apresenta os maiores índices no município.
Abaixo, segue um vídeo curto sobre a Floresta do Camboatá:
Guaratiba
Nosso último local está situado na Planície Litorânea. Sua localização pode ser definida como integrante da Baixada de Sepetiba, e a área em questão já sofreu tentativas de uso religioso (Campus Fidei), futebolístico (estádio do Flamengo, mas apenas em especulação) e festival de rap (REP Festival).
Contudo, dentre todas as três áreas que um dia foram escolhidas para abrigar o autódromo, está oferece a menor durabilidade a qualquer tipo de infraestrutura.
A existência de um determinado tipo de solo (Geissolo Sálico) na área, e de originalmente contar com uma faixa de manguezal (Formação Pioneira com influência fluviomarinha) já deveria despertar questionamentos sobre a razoabilidade de se construir um autódromo em um "relevo plano de várzea" ou de "alagados litorâneos".
O que agrava a questão é que de acordo com a simulação de elevação do nível do mar em 1 metro - conforme o mapa abaixo -, que, segundo a ONU, ocorrerá até 2100, o autódromo em si (se estiver lá) será inteiramente comprometido.
Enfim, em qualquer área que existiu, existirá ou que foi pretendido um dia existir, os autódromos do Rio de Janeiro (RJ) apresentam sérios problemas ambientais, dois ligados a elevação do nível do mar (Jacarepaguá e Guaratiba) e um a elevação da temperatura (Deodoro). Até 2100, todos teriam sua "vida" comprometida pela nova realidade da Terra.
Fontes:- Claudio Antonio Goncalves Egler. O Rio de Janeiro e as mudanças climáticas globais: uma visão geoeconômica. 2008.
- Conselho Nacional do Meio Ambiente. RESOLUÇÃO CONAMA Nº 033, de 07 de dezembro de 1994. 1994.
- Empresa Brasileira de Pequisa Agropecuária. Gleissolos Sálicos. 2024.
- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Banco de Dados e Informações Ambientais. Geomorfologia. 2024.
- O Eco. No meio do caminho de um autódromo, há uma floresta. 2019.
- Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Flora na Ecorregião da Serra do Mar. 2024.
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