O litoral brasileiro é uma área extensa e diversificada, que abrange aproximadamente entre 7.367 km e 7.461 km de costa. A compartimentação desse litoral, conforme definida por João Dias da Silveira, e posteriormente atualizada por Dieter Muehe, divide essa vasta região em cinco áreas geográficas distintas: Norte, Nordeste, Leste ou Oriental, Sudeste e Sul. Essa divisão permite uma melhor compreensão das características específicas de cada segmento costeiro.
Litoral Norte
O litoral da porção Amazônica, do norte do Amapá até o Golfão Maranhense, sofre influência do aporte de sedimentos trazidos pelos rios caudalosos, sobretudo o Amazonas. Com isso, formam-se extensas planícies costeiras recobertas de sedimentos finos e lamacentos. Esse ambiente favorece o desenvolvimento de manguezais que são compostos de árvores dos gêneros Rhizophora, Avicennia e Laguncularia, adaptadas à salinidade e às regulares inundações pelas marés. Possuem importante papel ecológico, pois servem de área de reprodução, berçário e abrigo para inúmeras espécies de crustáceos, peixes, moluscos e aves marinhas. (Carta Capital, 2014).
A compartimentação do Litoral Norte, de acordo com Dieter Muehe, é feita da seguinte maneira:
- Litoral do Amapá: do Cabo Orange (Oiapoque (AP)) ao Cabo Norte (Amapá (AP));
- Golfão Amazônico: do Cabo Norte (Amapá (AP)) a Ponta Taipu (São Caetano de Odivelas (PA)), desaguando nesse trecho tanto o rio Amazonas quanto o Tocantins (na Baía de Marajó);
- Litoral das Reentrâncias Pará-Maranhão: da Ponta Taipu (São Caetano de Odivelas (PA)) ao Mangues Secos (Raposa (MA)), desaguando nesse trecho o rio Mearim (na Baía de São Marcos).
Litoral Nordeste
A região do litoral nordestino, da foz do Rio Parnaíba até Salvador, na Bahia, possui como característica marcante o relevo tabular. Os tabuleiros possuem topos planos e elevados situados próximos às planícies costeiras. Foram moldados nas rochas sedimentares da Formação Barreiras, compostas de areias de origem fluvial e marinha, pouco consolidadas e de cores variadas. Essa formação é precedida pelos campos de dunas, alimentados por sedimentos provenientes da plataforma continental. São também frequentes os arenitos de praia, ou beach rocks. Essas rochas sedimentares são originadas pela cimentação dos grãos de areia, favorecida pela temperatura alta e consequente evaporação da água do mar. Formam recifes alongados e alinhados paralelamente à linha de costa. (Carta Capital, 2014).
A compartimentação do Litoral Nordeste, de acordo com Dieter Muehe, é feita da seguinte maneira:
- Costa Semi-árida Norte: do Mangue Secos (Raposa (MA)) a Ponta de Itapagé (Acaraú (CE)), desaguando nesse trecho o rio Parnaíba;
- Costa Semi-árida Sul: da Ponta de Itapagé (Acaraú (CE)) ao Cabo Calcanhar (Touros (RN));
- Costa dos Tabuleiros Norte: do Cabo Calcanhar (Touros (RN)) ao Porto das Pedras (Porto das Pedras (AL));
- Costa dos Tabuleiros Centro: do Porto das Pedras (Porto das Pedras (AL)) ao Rio São Francisco (Piaçabuçu (AL)), desaguando nesse trecho, obviamente, o rio São Francisco;
- Costa dos Tabuleiros Sul: do Rio São Francisco (Piaçabuçu (AL)) a Salvador (Salvador (BA)).
Litoral Leste ou Oriental
A porção do litoral chamada Região Oriental situa-se entre Salvador e Cabo Frio, no Rio de Janeiro. É um segmento de transição por apresentar a mistura de elementos do litoral nordestino, como a presença do relevo associado à Formação Barreiras e de arenitos de praia, com os afloramentos do embasamento cristalino, uma característica do litoral sudeste. Apesar disso, têm uma característica única os recifes de corais do Arquipélago dos Abrolhos, no litoral sul da Bahia. São únicos porque apresentam espécies de corais endêmicas. Ao contrário das espécies existentes em recifes de outros mares tropicais, em Abrolhos as espécies se adaptaram às águas turvas, típicas da costa brasileira. A forma de cogumelo desses recifes, chamada de “chapeirão”, é outra especificidade. (Carta Capital, 2014).
A compartimentação do Litoral Leste ou Oriental, de acordo com Dieter Muehe, é feita da seguinte maneira:
- Litoral de Estuários: de Salvador (Salvador (BA)) a Ilhéus (Ilhéus (BA));
- Banco Royal Charlotte e Abrolhos: de Ilhéus (Ilhéus (BA)) ao Rio Doce (Linhares (ES)), desaguando nesse trecho, obviamente, o rio Doce;
- Embaiamento de Tubarão: do Rio Doce (Linhares (ES)) ao Rio Itabapoana (São Francisco do Itabapoana (RJ)), desaguando nesse trecho, obviamente, o rio Itabapoana;
- Bacia de Campos: do Rio Itabapoana (São Francisco do Itabapoana (RJ)) ao Cabo Frio (Arraial do Cabo (RJ)), desaguando nesse trecho o rio Guaxindiba, Paraíba do Sul, Canal da Flexa, rio Macaé, das Ostras, São João e Una.
Litoral Sudeste
O litoral sudeste, setorizado entre Cabo Frio e Cabo de Santa Marta, em Santa Catarina, é forjado pela presença da Serra do Mar. Geomorfologicamente, a Serra do Mar é formada por um conjunto de planaltos situados paralelos à linha de costa, com altitudes de mil metros, chegando a 2 mil metros no Planalto da Bocaina. É justamente essa distância, entre as escarpas da serra e a linha de costa, que traz particularidade à paisagem. Nos setores onde a distância é reduzida e as planícies costeiras são pequenas, as ilhas e os afloramentos rochosos são frequentes. Nessas localidades, a ocorrência de chuvas orográficas – quando a massa de ar úmida encontra uma barreira topográfica, como a Serra do Mar – aumenta o escoamento superficial, o que pode causar escorregamentos de encostas, movimentos de massa e até mesmo grandes catástrofes. Nos setores em que a distância entre as escarpas e a linha de costa é maior, as planícies costeiras são mais extensas e ocorre a retilinização do litoral. (Carta Capital, 2014).
A compartimentação do Litoral Sudeste, de acordo com Dieter Muehe, é feita da seguinte maneira:
- Litoral dos Cordões Litorâneos: do Cabo Frio (Arraial do Cabo (RJ)) a Ilha da Marambaia (Mangaratiba (RJ));
- Litoral das Escarpas Cristalinas Norte: da Ilha da Marambaia (Mangaratiba (RJ)) a São Vicente (São Vicente (SP));
- Litoral das Planícies Costeiras e Estuários: de São Vicente (São Vicente (SP)) a Ponta do Vigia (Penha (SC));
- Litoral das Escarpas Cristalinas Sul: da Ponta do Vigia (Penha (SC)) a Ilha de Santa Catarina (Florianópolis (SC)), desaguando nesse trecho o rio Itajaí-açu;
- Litoral das Planícies Litorâneas de Santa Catarina: da Ilha de Santa Catarina (Florianópolis (SC)) a Cabo de Santa Maria (Laguna (SC)).
Litoral Sul
Por fim, a região sul do litoral brasileiro vai do Cabo de Santa Marta até Chuí, no Rio Grande do Sul. De modo geral, esse setor tem linha de costa retilínea com praias arenosas e extensas. A paisagem transforma-se em Torres (RS), onde existem falésias rochosas. Nessa região, os sistemas lagunares são bem desenvolvidos. Neles, as restingas, ou cordões litorâneos, têm papel fundamental. Apoiadas em saliências litorâneas ou em cabos, as restingas são formadas por faixas arenosas que são depositadas paralelas à praia. Assim, separam do mar uma quantidade de água que se transforma em lagoas litorâneas. São sistemas complexos e de grande importância ecológica. A Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, é um exemplo grandioso. (Carta Capital, 2014).
A compartimentação do Litoral Sul, de acordo com Dieter Muehe, é feita da seguinte maneira:
- Litoral Retificado do Norte: do Cabo de Santa Maria (Laguna (SC)) a Torres (Torres (RS));
- Litoral dos Sistemas Lagunas-Barreira do Rio Grande do Sul: de Torres (Torres (RS) a Barra do Chuí (Santa Vitória do Palmar (RS)).
- Carta Capital. Um litoral, muitas caras. Carta Capital. 2014.
- Dieter Muehe e Danielle Sequeira Garcez. A Plataforma Continental Brasileira e sua relação com a Zona Costeira e a Pesca. 2005.
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