A Zona Oeste do Rio de Janeiro não é uma divisão oficial da Prefeitura da cidade, mas sim uma região que engloba as Áreas de Planejamento 4 (AP4) e 5 (AP5). Essas áreas representam divisões administrativas que auxiliam no planejamento urbano e na gestão de serviços públicos. A Zona Oeste destaca-se pela sua vasta extensão territorial, abrangendo desde áreas próximas ao mar, como a Barra da Tijuca, até as fronteiras norte e oeste com outros municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, além da Baía de Sepetiba.
A AP4 inclui, principalmente, a Região Administrativa (RA) da Barra da Tijuca, conhecida por seu perfil de classe média alta, além da RA de Jacarepaguá e da Cidade de Deus, com uma composição social mais diversificada. A Barra da Tijuca é uma área predominantemente voltada ao turismo, com residências de alto padrão, enquanto Jacarepaguá e a Cidade de Deus abrigam uma maior diversidade de classes sociais, com predominância de classes média e baixa. Esse contraste resulta em uma grande heterogeneidade econômica na AP4. Em termos de infraestrutura, a região é bem servida por importantes vias, como a Avenida das Américas e a Linha Amarela, e conta com uma presença ainda incipiente do metrô. No transporte coletivo, destacam-se os BRTs TransOeste, TransOlímpica e TransCarioca.
Já a AP5 apresenta uma configuração mais homogênea, com predominância de classes médias e médias-baixas. Ela abrange as Regiões Administrativas de Realengo, Bangu, Campo Grande, Santa Cruz e Guaratiba, sendo caracterizada por alguma atividade agrícola, contando com a maior parte dos cerca de 1100 estabelecimentos rurais do município, apesar de o Rio de Janeiro não possuir oficialmente uma zona rural. Em termos de infraestrutura, a AP5 é bem conectada pela Avenida Brasil e conta com transporte ferroviário que atende várias localidades. O transporte coletivo na região é complementado pelos BRTs TransOeste e TransCarioca, além de diversas linhas de ônibus que conectam as áreas da AP5 ao restante da cidade.
Assim, enquanto a AP4 é marcada por um perfil socioeconômico desigual e uma grande diversidade entre seus bairros, a AP5 se caracteriza por uma maior homogeneidade, tanto no que diz respeito à composição social quanto às atividades econômicas predominantes.
Na tabela abaixo, é possível entender melhor alguns aspectos dessas APs:
Zona Oeste | ||
AP4Jacarepaguá, Cidade de Deus e Barra da Tijuca | Perfil socioeconômico | Bairros com maior concentração de moradores de classe média alta e alta, embora haja áreas diversificadas dentro de Jacarepaguá. |
Características urbanas | Predominância de áreas urbanisticamente planejadas e de condomínios fechados, com destaque para a Barra da Tijuca. | |
Densidade demográfica | Na Barra da Tijuca, é moderada, com espaços maiores entre construções. | |
Infraestrutura | Embora não seja atendida por trens, a região conta com melhor acesso viário, graças à presença de importantes vias, como a Avenida das Américas e a Linha Amarela. O transporte público é mais integrado com as áreas centrais da cidade, incluindo os BRTs e linhas de metrô na Barra da Tijuca. | |
Economia | Concentra atividades ligadas ao comércio, serviços e turismo (um terço da rede hoteleira da cidade está na AP4), bem como grandes centros de convenção e shoppings de alto padrão na Barra da Tijuca. | |
AP5Realengo, Bangu, Campo Grande, Santa Cruz e Guaratiba | Perfil socioeconômico | Predominantemente de classe média e baixa, com bairros mais populares e historicamente operários. |
Características urbanas | Áreas com urbanização consolidada, mas menor infraestrutura comparada a outras partes da cidade. | |
Densidade demográfica | Geralmente alta, com bairros residenciais e ocupação urbana intensa. | |
Infraestrutura | É caracterizada pelo uso do transporte ferroviário, embora a malha de transporte de massa apresente diversas limitações. Além disso, alguns bairros têm pouca integração direta com o centro da cidade. | |
Economia | Conta com muitas indústrias, especialmente em Bangu e Santa Cruz, que abrigaram importantes fábricas. Possui um importante setor comercial, embora seus consumidores se restringem aos moradores da própria AP5. |
Uso do solo
Segundo o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável do Rio de Janeiro, de 2011, não existem áreas rurais na cidade. Entretanto, Campo Grande é um bairro conhecido por manter o status rural, como a presença de agricultores urbanos na Feira Agroecológica de Campo Grande. (G1, 2024).
A lavoura carioca teve peso quase imperceptível nos R$ 470,5 bilhões gerados pela safra recorde no país em 2020. A marca foi anunciada no último dia 22 em edição da série histórica da Produção Agrícola Municipal (PAM), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde 1974. A capital fluminense responde por ínfimos R$ 47,8 milhões desse total, ou 0,01% do valor da produção agrícola nacional. Além disso, tem apenas 1,7% de sua área dedicado ao plantio. Na segunda cidade mais populosa do país, praticamente todo o alimento consumido é importado de municípios e estados vizinhos.Após séculos de urbanização, parte da cidade ainda é tomada por arados, lavras e enxadas. Em pouco mais de 20 quilômetros quadrados distribuídos pela Zona Oeste, toneladas de aipim, cana-de-açúcar, coco, banana, maracujá, abacate e caqui, entre outros produtos, são cultivados em cerca de 1,1 mil estabelecimentos rurais nos bairros de Santa Cruz, Guaratiba, Santíssimo e Campo Grande. Tudo segue para a mesa dos cariocas.— A produção caiu com a elevação da temperatura e a expansão imobiliária na região, que dificulta nosso acesso aos canais de irrigação — conta Clarice, que fatura cerca de R$ 120 mil por ano.Na mesma colônia, o agricultor José Fernandes, de 61 anos, responsável por quase 95% da cana-de-açúcar plantada no Rio — a safra total do ano passado foi de 274 toneladas —, direciona o que produz para vendedores de caldo da planta.Já nas terras de Luiz Carlos Hoshima, de 59 anos, um coqueiral avança por dez hectares (cerca de cem mil metros quadrados) e rende colheitas diárias de até três mil cocos, dependendo do clima.— Nós temos uma terra muito fértil, de turfa, material de origem vegetal, que deixa a nossa água de coco mais doce que as demais — orgulha-se Hoshima, apontando, no entanto, adversidades trazidas pela pandemia:Em Guaratiba, João Carlos Abreu, de 56 anos, ocupa quase 80 mil metros quadrados com o cultivo de maracujá, chuchu, hortaliças, aipim e tomates. O último item da lista é aposta ousada, já que o clima local não ajuda, mas ele gosta de desafios: vai iniciar um plantio inédito de uvas pretas sem sementes na região, com mudas vindas de Petrolina, em Pernambuco. Todos os produtos colhidos abastecem o mercado que mantém no bairro, onde chega a vender 600 molhos de couve por dia.A terra de Guaratiba — não por acaso o lugar onde fica o histórico sítio do paisagista Roberto Burle Marx, reconhecido como Patrimônio Mundial da Humanidade em julho — também abriga produtores de plantas ornamentais. João Camacho, de 62 anos, nasceu no bairro, tem Burle Marx como inspiração e cultiva mais de cem espécies em quase 40 mil metros quadrados de terreno.— Cerca de 80% das minhas vendas são de atacado, para lojas e quiosques. Mas atendo também compradores individuais que chegam até aqui — diz João Camacho.
Segundo o último Censo Agro do IBGE, realizado em 2017, mais de 90% dos estabelecimentos agropecuários do município têm menos de 200 mil metros quadrados. E quase dois terços desse universo (67,8%) pertencem à categoria definida como “agricultura familiar”. (O Globo, 2021).
Ocupação
“A região sofreu um processo muito desordenado de crescimento populacional, principalmente a partir dos anos 60 em diante”, conta Mansur, morador da região. (Agência Brasil, 2023).
Com a proclamação da República, a região tornou-se a zona rural do Distrito Federal, até que em 1960, com a transferência da capital para Brasília, passou a ser a zona oeste do Rio de Janeiro.Patricia Nicola cita alguns marcos da urbanização da área, que era uma importante produtora agrícola. A estrada de ferro da região é um desses marcos de crescimento. O surgimento da estrada de ferro no final do século 19 fez com que houvesse uma concentração populacional e comercial perto das estações de trem. Além disso, a construção de novas estradas, muitas delas atravessando montanhas, integrou ainda mais a região ao restante da cidade. Outro eixo de expansão foi a construção da Vila Militar, entre 1904 e 1918, destinada a ser um bairro com escolas, jardins, praças e toda a infraestrutura para atender militares e suas famílias.A partir da década de 1960, o então governador Carlos Lacerda iniciou o programa de remoção de favelas e reassentamento de famílias faveladas, transformando a zona oeste em local de expansão da cidade para assentamento da população de baixa renda.A pesquisadora conta que essa característica persiste e que observou enquanto trabalhava no Minha Casa, Minha Vida o mesmo movimento que ocorreu na década de 1960. A chegada de pessoas sem uma estrutura do Estado para atendê-las. “Envia para lá mais pessoas e não pensa em equipamentos públicos de saúde e transporte. Principalmente porque, se alguém é deslocado de um ponto para outro da cidade, ele não larga o trabalho. Passa a morar mais longe do trabalho, onde é mais barato. Para se deslocar para o trabalho, isso custa caro. O serviço público não acompanha, o governo não acompanha, não ocupa esses espaços e deixa livre para outras organizações e pessoas ocuparem esses espaços”, analisa.Outro marco na história da zona oeste é o processo de ocupação acelerado a partir dos anos de 1970. Esse processo, de acordo com Patricia Nicola, foi marcado por uma intensa especulação imobiliária e pela formação da Barra da Tijuca. “Esse marco do planejamento público foi materializado pelo trabalho do arquiteto Lúcio Costa e sua proposta de Plano Piloto para o ordenamento territorial da região da Barra da Tijuca e Baixada de Jacarepaguá”, diz trecho do artigo da pesquisadora. “A Barra da Tijuca é um dos locais mais valorizados do Rio; o espaço é concebido como mercadoria a ser consumida por aqueles que podem pagar por ela, um 'sonho de consumo' valorizado pela mídia e pelo setor imobiliário”, complementa o artigo.As desigualdades são somadas a características de uma área onde a cidade ainda tem grande potencial de crescimento, o que favorece a atuação das milícias, de acordo com o pesquisador Daniel Hirata.Hirata destaca ainda a realização de grandes eventos, como as Olimpíadas de 2016, que concentrou grande parte das arenas de competição na Barra da Tijuca.Para ambos os pesquisadores, uma maior presença do Estado na região pode ajudar no combate às milícias. Uma maior atuação, por exemplo, nas áreas de educação, saúde, transporte público, cultura e prestação de serviços públicos impediria que grupos criminosos expandissem a atuação. (Agência Brasil, 2023).
Com ajuda de cartografia e de imagens de satélite, a Câmara Metropolitana do Rio de Janeiro mapeou o crescimento da área urbana da Região Metropolitana do estado, formada atualmente por 21 municípios. O trabalho revela que a malha urbana de algumas cidades, nas últimas décadas, acabou se unindo, num fenômeno conhecido como conurbação. Juntos, esses municípios contribuem com cerca de 64% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado. Veja abaixo como foi essa evolução desde o final do século XIX e leia a reportagem completa. (O Globo).
Economia
A partir da década de 1960, surgiram os distritos industriais de Campo Grande e Santa Cruz, fazendo a região se destacar pelo potencial das fábricas.São plantas como a da fabricante de pneus Michelin, em Campo Grande, as siderúrgicas Gerdau e Ternium Companhia Siderúrgica do Atlântico, e a Casa da Moeda do Brasil, essas últimas no distrito industrial de Santa Cruz. Ainda há negócios industriais nos ramos de alimentos e bebidas, metalurgia e química, entre outros.Ainda em Santa Cruz, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) constrói o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde, em uma área equivalente a cerca de 60 campos de futebol. A fábrica terá capacidade de produção estimada em 120 milhões de frascos de vacinas e biofármacos por ano.“O fato de ter um porto de contêiner funcionando com capacidade ociosa [sem gargalos, como fila para navios atracarem] é um ativo para atrair mais indústrias para a zona oeste”, completa.A dinâmica que as indústrias e agropecuária deram à região ajudou a desenvolver atividades de comércio e serviço. São famosos os calçadões de Bangu e de Campo Grande. Trata-se de uma espécie de shopping a céu aberto, bem perto das estações de trem desses dois bairros.“O comércio que existe na zona oeste serve para atender a população. Não é um fator de dinamização. A capacidade de dinamizar a região está bem mais na indústria e na agricultura”. O mesmo vale para o setor de serviços, de acordo com o economista. “Um dentista na zona oeste atende a renda que já tem lá, não gera renda nova”, exemplifica.À medida que se aproxima das praias, a zona oeste passa por uma mudança de ares. Na AP 4, que abriga bairros como a Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá, fica meno flagrante o potencial industrial e mais exacerbadas atividades ligadas ao comércio, serviços e turismo.Nessa parte da cidade, são comuns shoppings de alta renda. Também fica lá um terço da rede hoteleira da capital fluminense, de acordo com o presidente do Sindicato Patronal de Todos os Meios de Hospedagem do Município do Rio (HotéisRIO), Alfredo Lopes. A Barra da Tijuca capitaneia essa localização, seguida pelo Recreio dos Bandeirantes e a chamada área olímpica, entre a Barra e Jacarepaguá - espaço que reuniu competições e hospedagens durante a Olimpíada de 2016.Lopes entende que a indústria de hotéis ainda tem espaço para crescer na região e destaca um diferencial em relação à zona sul, região turística mais perto do centro e que abrange as praias de Ipanema, Leblon e Copacabana. “A gente tem muitos turistas para evento”, aponta ao contextualizar que muitos centros de convenção ficam na zona oeste. “Mas temos também turistas de lazer no verão e nos fins de semana. Muitos de países do Mercosul”, completa.Apesar de ter menos moradores que a AP 5, a AP 4 emprega mais pessoas. Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico, a área concentra 25 mil empresas, com 302,5 mil empregos. Já na AP 5, os números são 12,2 mil empresas, com 163,6 mil vínculos empregatícios. (Agência Brasil, 2023).Fontes:
- Agência Brasil. Imensa e desigual, zona oeste é 70% do Rio e tem 41% da população. 2023.
- Agência Brasil. Zona oeste concentra uma de cada três empresas da cidade do Rio. 2023.
- G1. Campo Grande, Zona Oeste do Rio, é o bairro mais populoso do Brasil, segundo IBGE. 2024.
- O Globo. A expansão desordenada da Região Metropolitana.
- O Globo. Dentro da cidade do Rio, agricultores resistem e produzem coco, mandioca e cana-de-açúcar. 2021.
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