março 02, 2025

O manguezal do aeroporto de Macaé
O manguezal do aeroporto de Macaé

O Aeroporto de Macaé iniciou suas operações em 1980, embora haja registros históricos que mencionem Joaquim de Azevedo Mancebo, um macaense que, em 1966, construiu a primeira pista de pouso no município e fundou o Aero Clube de Macaé. No entanto, não há confirmação de que essa pista tenha sido construída no atual sítio aeroportuário.

A consolidação do Aeroporto de Macaé está diretamente ligada à chegada da Petrobras ao município, em 1979, já que sua principal função é operar voos de helicópteros que transportam passageiros para as plataformas de petróleo na Bacia de Campos. Apesar de não operar voos internacionais, seu impacto global, em função de sustentar a extração de energia, base do nosso mundo de desenvolvimento, supera o de muitos aeroportos de grande porte.

Aeroporto de Macaé em 2017.
Fonte: Jetphotos (felipe rodrigues).

No âmbito local, os impactos ambientais do aeroporto não se restringem à poluição causada pelo consumo de combustíveis e energia elétrica. Um dos efeitos mais preocupantes decorre da construção de uma segunda pista, prevista para ser inaugurada em 2025, que permitirá a operação de aeronaves de maior porte, como os Embraer E-Jets. A construção dessa nova pista pode ter resultado na supressão de parte do já afetado manguezal do município de Macaé.

Aeroporto de Macaé em 2025.
Fonte: Aeroin.

Os manguezais da Ecorregião de São Tomé, na qual o aeroporto está situado, foram objeto de um minucioso estudo realizado por Arthur Soffiati, que identificou a persistência desses ecossistemas em 23 corpos d'águas entre o rio Itapemirim e o rio Macaé. O autor destaca que o manguezal de Macaé já sofreu severos impactos ambientais. Mas antes da intervenção do DNOS (na década de 1960) e da chegada da Petrobras (na década de 1970), que causaram esses impactos, o manguezal do rio Macaé encontrou espaço para expansão após a abertura do Canal Campos-Macaé, no século XIX. No entanto, é precisamente um manguezal associado a esse canal que pode estar sendo destruído para a construção da segunda pista do aeroporto.

Macaé em 1966, em área próxima ao atual aeroporto, antes da intervenção do DNOS (com a canalização do rio Macaé, criando a ilha de Leocádia) e da chegada da Petrobras (que atraiu imigrantes, os quais ocuparam a ilha de Leocádia, desmatando manguezais).
Fonte: Prefeitura Municipal de Macaé.

Ao analisar o shapefile de manguezais do IBAMA, nota-se que o órgão classifica uma extensa área no sítio aeroportuário como contendo manguezal. Contudo, os estudos de Soffiati não mencionam explicitamente a presença de manguezais no aeroporto, o que gera dúvidas sobre a exatidão dessa classificação. Por exemplo, enquanto Soffiati afirma que "(...) de Barra do Furado ao rio Macaé, uma longa linha de costa se estende sem nenhum sistema hídrico com manguezal", já que "foram erradicados ou pereceram por interferência antrópicas", o shapefile do IBAMA inclui uma área na Lagoa de Carapebus como manguezal. Pesa, no entanto, a favor da caracterização de um manguezal no sítio aeroportuário a interligação do Canal de Macaé, que delimita o sítio, com o Canal Campos-Macaé.

Hidrografia de Macaé.
Fonte: Prefeitura Municipal de Macaé.

Além disso, a própria Prefeitura de Macaé, em seu Plano Diretor de 2006, afirma que:

Art. 139 - São diretrizes específicas das políticas públicas para a Macroárea de Ocupação Prioritária:

(...) XIV - garantir a recuperação e preservação das áreas de interesse ambiental e a sua integração com projetos urbanos, especialmente a área de manguezal próximo ao Aeroporto e a vegetação remanescente às margens da Linha Verde e do loteamento Balneário Lagomar. (MACAÉ, 2006, p. 156-157).

Soffiati, em um de seus dois trabalhos mencionados aqui (veja as referências ao final da postagem), ao tratar dos manguezais de Macaé, afirma que:

Acresça-se também que, na foz do rio, desemboca o Canal Campos-Macaé, logo depois de receber as águas do Rio Águas Maravilhosas, havendo manguezal em todos eles. (Soffiati, 2009, p. 92-93).

Se o Canal de Macaé e o Rio Águas Maravilhosas forem o mesmo curso d'água, conforme acreditamos, teríamos, então, a comprovação da existência desse manguezal.

Contra essa interpretação, está o trabalho de engenheiros civis da COPPE/UFRJ, que descrevem o sítio aeroportuário como uma área pantanosa, sem fazer qualquer menção à existência de um manguezal.

Enfim, caso se confirme a presença de um manguezal no sítio aeroportuário, sua destruição devido à construção da segunda pista agravaria ainda mais o cenário descrito por Soffiati. Caso se trate, por outro lado, de uma "simples" área pantanosa, a situação também seria tenebrosa, considerando pragmaticamente os serviços ambientais que essa área poderia oferecer ao município, como a mitigação de enchentes na Nova Holanda e na Nova Esperança, por exemplo.

No mapa abaixo, está disponível a delimitação do manguezal no sítio aeroportuário feita pelo IBAMA:

Fontes:
- André do Valle Abreu e Márcio de Souza Soares de Almeida. Parâmetros Geotécnicos de um Depósito de Solo Mole em Macaé/RJ. 2020.
- Arthur Soffiati. Os manguezais do sul do Espírito Santo e do norte do Rio de Janeiro. 2009.
- Dados Abertos. IBAMA. SHP-ZIP - Vegetação de mangue. 2021.
- ECO 21. Arthur Soffiati. Manguezais no mundo, no Brasil, no Estado do Rio de Janeiro. 2024.
- GeoMacaé. Hidrografia. 2015.
- Prefeitura Municipal de Macaé. Lei Complementar Nº 076/2006.
- Wikipedia. Aeroporto de Macaé. 2025.

Últimas modificações04/03/2025

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