junho 30, 2025

A Praia de Sepetiba
A Praia de Sepetiba

A história recente da Praia de Sepetiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, é marcada por um processo de destruição ambiental, tentativa de recuperação e, mais recentemente, um surpreendente processo de renascimento do manguezal. Estendendo-se por uma área de aproximadamente 172.000 m², o manguezal começou a se estabelecer na região a partir de abril de 2014, justamente após a chamada engorda da praia — um projeto de reconstituição da faixa de areia anteriormente soterrada por lama.

Contudo, a emergência desse manguezal foi realizada na contramão dos planos governamentais. Para compreendê-la, é preciso voltar no tempo.

Em setembro de 1998, reportagem da Folha de São Paulo declarava que o Rio havia “perdido” a Praia de Sepetiba. A lama, proveniente das dragagens para ampliação do porto, havia substituído a areia e inviabilizado o banho de mar. De praia, restava apenas o nome. A tragédia ambiental afetava diretamente os moradores, que viam ali um espaço de lazer.

Mais de uma década depois, em 2010, iniciou-se um ambicioso projeto de recuperação da praia, orçado em R$ 46 milhões, conforme noticiado pelo Jornal do Brasil. O plano incluía a reposição de areia, a remoção da lama e o remanejamento de um manguezal que já começava a se instalar de forma considerada “invasora”. Cerca de 500 mil mudas e 780 mil caranguejos foram transferidos para outras áreas. A ideia era restaurar o balneário e conter o avanço da vegetação de mangue, vista, na época, como consequência indesejada do assoreamento.

Em junho de 2014, o portal Viva Favela revelava que a lama e o mangue já voltavam a ocupar parte do espaço conquistado pela areia reposta por ação humana. Foi nesse contexto que, em abril de 2015, confirmou-se, por imagens de satélite, o processo de renascimento do manguezal. Não como uma “espécie invasora”, mas, pragmaticamente, como um ecossistema capaz de oferecer serviços ambientais, a exemplo de conferir proteção costeira, retenção de sedimentos e abrigo para diversas formas de vida marinha.

Ainda assim, o processo é ambíguo. A presença do manguezal, embora ambientalmente positiva em muitos aspectos, frustra as expectativas de quem ainda sonha com o retorno da antiga praia balneável. Além disso, sua recuperação se dá sobre um território moldado por décadas de intervenção humana, o que coloca em xeque noções tradicionais de “natureza regenerada”.

No entanto, hoje, o manguezal da Praia de Sepetiba nos convida à reflexão sobre quais futuros desejamos para nossos espaços costeiros: a recuperação de um balneário perdido ou a consolidação de um ecossistema que insiste em reaparecer?

No mapa abaixo, retratamos com base em imagem aérea de março de 2025 do Google Earth o espaço ocupado atualmente pelo manguezal:

Um bom vídeo sobre a história da Praia de Sepetiba, contando inclusive com imagens aéreas do atual manguezal, pode ser visto abaixo. O vídeo não foi produzido por este blog:

Fontes:
- Jornal do Brasil. Praia de Sepetiba recebe melhorias após quatro meses em obras. 2010.
- Sergio Torres. Folha de São Paulo. No Rio, lama soterra a praia de Sepetiba. 1998.
- Telma Lopes. Viva Favela. Mangue cresce nas areias de Sepetiba. 2014.
- Terra. Governo do Rio lança obra de recuperação de praia de Sepetiba. 2010.

Últimas modificações01/07/2025

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